segunda-feira, 28 de março de 2011

O ABRAÇO DE UM AMIGO

Caro Amigo,

Nos últimos seis meses (quase um ano) a minha presença junto de quem prezo e admiro tem sido um exprimir dorido duma situação que estou a viver e no pior período da vida de uma pessoa, precisamente quando necessitava de tranquilidade para fazer da sua existência e poder gozar os derradeiros tempos positivamente.
Aconteceu-me exactamente o inverso. Depois duma corrida contra o tempo e contra as dificuldades, passe a imodéstia, consegui vencer, indo até para além das minhas possibilidades, devendo isso não só à minha persistência, desejo de saber, dedicação, mas essencialmente à sorte que me acompanhou, sobretudo a partir de ter constituído família e ter ctonseguido encontrar a outra parte, a parte que me faltava para me ajudar todos os dias - a Maria Ilídia.
E como sabe, aliás já deve estar cansado de me ouvir e ler lamentando o momento triste e até negro para que fui atirado, depois de ter tido a loucura de me atrever na feitura de um jornal para a minha terra, uma luta, uma guerra que durou 17 anos, que me levou à exaustão física e moral e que ainda me obrigou a vergar perante gente amiga a quem solicitei ajuda, uns que a deram sem outro qualquer interesse que não fosse ajudar, outros que me abraçaram e não passaram do abraço e de palavras que são fáceis de proferir.
Tenho pois, a par de quem me acompanha, vindo a percorrer um percurso errante, fugindo às pessoas, deixando de abraçar a minha terra, esquecido por uma maioria que enquanto eu tive o poder de intervir era um "bom amigo" e que, agora, passei simplesmente a ser um "individuo que conheci".
Sinto que ainda podia ser muito útil à sociedade que me envolve, mas sei que para além da idade sou um homem marcado como um perdedor. Daí o abandono a que sou votado e que todos os dias me atravessa a personalidade como uma seta de sinal negativo.
E é este estado de alma que tenho transmitido aos meus amigos. Palavras de amargura e de frustração.
Mas, eis que algo de positivo me aconteceu e que quero conviver com o meu amigo, tal momento de satisfação. Afinal, em Matosinhos, na minha terra, ainda há quem não tenha esquecido o Joaquim Queirós, homem modesto, humilde, mas riquíssimo no querer à terra que o viu nascer e às pessoas que fizeram da mesma uma comunidade de eleição na qualidade humana, pois nem tudo se terá perdido. E eu, ao fim de muitos meses sorri, com a Maria Ilidia a meu lado.

O LIONS CLUBE DE MATOSINHOS, no festejar dos seus 44 anos de vida, clube que foi fundado por grandes amigos que eu conheci e abracei e abraço como Miguel Martins, Crispim de Sousa, José Aguiar, Alfredo Ferreira dos Santos, Orlando Ramos, Miguel Teixeira, Filinto Baptista, Edison de Magalhães, Magalhães Pinto, João Coelho e tantos outros, teve a grandeza de alma de me nomear CIDADÃO DO ANO, fazendo-me a entrega de um diploma e duma Medalha de Mérito Dourada de Lions International.
Fiquei emocionado por um acto feliz, o que não acontecia há longo tempo. Por isso, decidi partilhá-lo com o meu amigo e não só estar-lhe a transmitir, abusando da sua paciência, sinais de infelicidade.
Afinal, lembram-se que ainda existo - foi e é o que me apetece dizer. Sobretudo aos amigos.
Não considere esta mensagem como um gesto de vaidade, mas sim de orgulho por quem julgava que já não teria possibilidades de levantar a cabeça e, afinal, ainda recebeu palmas e abraços. De gente que não se esquece. Voltei a sorrir e a beijar com felicidade a Maria Ilídia.
Há algo que me diz que ainda estou vivo.
Não esquecerei nunca mais o gesto dos meus amigos "lions".
Fico feliz por poder compartilhar o momento de felicidade com os meus amigos. Só por isso escrevi esta mensagem. Nem sempre tules negros, como tenho descerrado.
Peço desculpa desta minha intromissão no sossego da vossa vida.

Um abraço do

Joaquim Queirós

Sem comentários: